Há 20 anos, Richard D. Roberts, doutor em filosofia e psicologia pela Universidade de Sydney, dedica-se ao desenvolvimento de análise e avaliações emocionais e de personalidade.
Autor de mais de uma dúzia de livros e de mais de 150 estudos científicos sobre personalidade e educação emocional, Richard deu entrevista à Época sobre a importância da educação emocional para o aprendizado e para o sucesso profissional das pessoas.
Ao falarmos de habilidades socioemocionais, falamos de traços de personalidade e habilidades universais, como perseverança, responsabilidade, abertura ao novo, ansiedade e amabilidade.
Há cada vez mais evidências de que os traços de personalidade são importantes para a educação e também para outros aspectos da vida, como sucesso no trabalho, e até para predizer a expectativa de vida. A relação é bastante lógica.
Quem tem um bom relacionamento com as pessoas, foco e propósito, vive melhor. Não mudamos nossas personalidades, mas podemos adquirir habilidades que equilibrem aspectos predominantes do nosso jeito de ser que podem nos atrapalhar.
Emoção e trabalho
Os problemas vividos hoje nas organizações mostram a urgência e a importância de se compreenderem as emoções, assunto tradicionalmente proibido e desqualificado. Muitas pesquisas atuais na medicina quântica, neurologia, psicologia e biologia estão mostrando a importância da integração das emoções para o equilíbrio intrapessoal e interpessoal.
Essas pesquisas podem contribuir para a mudança das práticas gerenciais e das relações de poder nas organizações. A energia emocional é a propulsora da vida e, como tal, deve ser levada a sério para que as organizações não se transformem em fábricas de pessoas doentes, infelizes e estressadas.
Vemos hoje nas organizações o medo, tensões resultantes de conflitos e pressões, angústia, ansiedade e insegurança frente às incertezas, frustrações decorrentes de vivências negativas sucessivas, mau humor e ironia frente a incoerências, baixa autoestima, etc.
Quando ignoramos esses problemas, eles tendem a aumentar, resultando em grandes perdas de produtividade e em enormes desgastes na saúde e na qualidade de vida dos empregados. Não humanizaremos as organizações sem integrar as emoções humanas positivas nas relações de poder.
Precisamos substituir o uso do medo pela vivência da alegria, que nos torna criativos, eficazes e saudáveis. O sucesso das organizações dependerá do estímulo às emoções positivas de seus membros em projetos desafiadores e significativos.
Montmartre, em seu artigo sobre “qualidades das emoções e vida profissional” (jun. 2004), faz algumas reflexões interessantes sobre as emoções no trabalho:
“(…) Daí, precisamos falar sobre as emoções autênticas e sua importância para o ser humano: a alegria, o afeto, o medo, a tristeza e a raiva. Estas fazem parte do nosso ser biológico e são universais.
Acontece que daí para frente, nos são ensinadas tantas outras emoções não autênticas, os chamados ‘disfarces’, que acabamos usando para justificar os papéis vividos no nosso dia-a-dia, entre eles a ansiedade, a irritação, os ciúmes, o desespero, a depressão e a insegurança”.
O problema das emoções no trabalho
O grande problema é que, no ambiente de trabalho, usamos os disfarces para não sentirmos as nossas emoções autênticas, e, como não as sentimos, acabamos em contato com poderosos mecanismos de criação e desencadeamento do estresse.
É claro que existem autores que dizem que o estresse é necessário, pois acaba levando o indivíduo a uma busca por fazer as coisas darem certo, de trazer resultados (para a empresa) sempre mais rápidos.
Outro problema que decorre dos disfarces é quando saímos do ambiente de trabalho e vamos para casa. Como estamos acostumados a viver papéis diferentes, acabamos criando, então, outros papéis dentro do próprio lar.
Aí começa um novo problema: criamos jogos psicológicos nos quais envolvemos todos no ambiente familiar – pais, mães, irmãos, maridos, esposas – num jogo de papéis contínuo, que sempre fortalecem os nossos disfarces.
As 7 dicas para melhorar suas emoções e sua inteliência emocional no trabalho
Assim sendo, segundo Montmartre, vão algumas dicas para quem quer discutir e melhorar suas emoções e sua inteligência emocional no ambiente de trabalho:
1) Lembre-se que você é um ser único, indivisível, então, procure viver um papel só na sua vida, e não criar estereótipos para cada ambiente que você passa no decorrer dos dias. Afinal, à noite, você vai dormir e aguentar a si mesmo.
2) Saia da desculpa de que você não tem tempo. Lembre-se: o dia tem 24 horas.
3) Monte grupos para discutir sentimentos e emoções, se não for possível conversar sobre isso 15 minutos por semana no seu ambiente de trabalho.
4) Cuidado com o excesso de atividades. Tratar de muitos assuntos ao mesmo tempo causa estresse e irritabilidade entre as pessoas.
5) Não se exponha a situações que você não queira viver realmente. Por exemplo, se aquele programa de bom humor que a empresa bolou não lhe agrada, informe a sua chefia e, discretamente, não participe.
6) Tire ao menos duas horas por semana para você e faça aquilo que lhe dê prazer.
7) Controle o disfarce das emoções e viva adequada e intensamente as emoções autênticas de forma equilibrada. Esse é o melhor caminho para a prevenção e alívio do estresse no trabalho e na vida.
Fonte: Este post é uma adaptação do artigo sobre Emoção e Comportamento da Consultora de Gestão de Carreira e Professora da FDC e da VIDDIA, Clara Lúcia Sacchetto Linhares.