Este artigo foi escrito por Ricardo Drummond, consultor em estratégia e co-fundador da VIDDIA Educação Online.
Como uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto abaixo foi reproduzida de uma reportagem da Folha de São Paulo em 09/02/2017. A foto mostra motoristas da Uber estacionados em um terreno baldio próximo ao Aeroporto de Congonhas, aguardando até 12 horas para conseguir pegar “uma corrida boa”.
E qual a razão disso? É culpa da Uber? Claro que não! A culpa neste caso é de uma lei muito conhecida no planejamento estratégico: a lei do lucro real.
Como funciona a Uber, do ponto de vista estratégico
A Uber é, em última análise, uma empresa de transporte público individual, e seu concorrente mais direto é, obviamente, o táxi. Então, para bater seu concorrente, a Uber deve apresentar alguma vantagem competitiva sustentável sobre este. Será que a Uber realmente possui alguma?
Os usuários da Uber dizem que gostam do serviço porque, pelo mesmo preço de um táxi ou menos, podem contar com motoristas mais educados e carros mais confortáveis.
Sempre fiquei intrigado em saber como a Uber conseguia isso e a resposta está clara: Não consegue! Mais uma vez aquela lei da vida de que “Não existe almoço grátis” vai ser aplicada.
O primeiro sinal disso veio de uma greve de motoristas da Uber de São Paulo e outras cidades do Brasil, sendo que a motivação da greve era pressionar a Uber para aumentar o valor das tarifas pagas aos motoristas.
Estes argumentavam que os valores cobrados não permitirão fazer a manutenção e eventual renovação dos carros. E, é claro: carros mais confortáveis custam mais caro para comprar e para manter. Além disso, motoristas mais educados provavelmente possuem expectativas de remuneração, após deduzidos os custos, maiores do que os motoristas de táxi comuns.
Dessa forma, ou a Uber aumentará seus preços para remunerar melhor os educados motoristas e seus carros confortáveis ou alguns motoristas logo perceberão (alguns já perceberam) que o negócio não compensa.
No final, se a Uber aumentar seus preços, poderá sobreviver e ocupar no mercado uma posição estratégica conhecida como “De nicho”, transportando com conforto pessoas que se dispuserem a pagar mais pelo serviço.
Se insistir em concorrer em preço com os táxis comuns, perderá motoristas, a disponibilidade de motoristas irá cair, os usuários ficarão insatisfeitos e o serviço morrerá.
Os motoristas que ficarem serão, em sua maioria, pessoas que conseguiram comprar um bom carro com seus trabalhos anteriores, estão desempregados e, sem perspectivas de curto prazo, serão motoristas da Uber como bico. Já sabemos o que podemos esperar, a longo prazo, de um serviço assim, certo?
A lei do lucro real
A lei do lucro real diz, resumidamente, que se em algum mercado não existe uma barreira de entrada significativa, o lucro real (lucro menos rentabilidade do dinheiro se aplicado em outro lugar) vai tender a zero.
Traduzindo para o português: se um mercado for atrativo mas for fácil de entrar, não será atrativo por muito tempo, pois o número de competidores que entrarão no mercado crescerá até que a competição faça ficar ruim para todo mundo. Em algum momento competidores começarão então a sair do mercado e a margem real se estabilizá no zero.
É muito fácil entrar no mercado de ser um motorista Uber. Basta ter uma carteira de motorista, tempo disponível e um carro razoável (que pode ser emprestado ou alugado). Não é necessária nenhuma licença, e esse é o segredo do negócio da Uber, certo? Pois acho que também será a razão da sua queda.
Estes motoristas aí que aparecem sem camisa em algum momento perceberão que a coisa não está mais valendo a pena. Os carros estão se deteriorando e eles não conseguiram juntar dinheiro para trocá-los por novos. Vão insistir na Uber até conseguirem ter alguma opção melhor, o que depende da evolução da economia, mas isso é assunto para outro post.
É pedir muito que motoristas da Uber tenham noções de planejamento estratégico. Mas é claro que, se um negócio não é bom para todos, acabará não sendo bom para ninguém.
Se está sendo bom para a Uber e para os usuários mas não para os motoristas, é só uma questão de tempo até tudo ruir. Talvez a Uber aposte que antes disso os carros autônomos chegarão e os custos se restringirão ao carro em si, dando nova vida ao modelo. O tempo vai dizer se vai funcionar./
É arriscado falar mal de uma empresa queridinha de muitos, como a Uber. Mas algumas vezes as verdades incomodam mesmo.
Criamos cursos, oficinas e treinamentos das principais habilidades do futuro: auto eficácia (inteligência emocional, solução de problemas e mentalidade ágil), habilidades interpessoais (comunicação, escuta ativa, empatia e influência) e habilidades de gestão (liderança, gestão de projetos, design thinking e transformação digital).
Conheça nosso catálogo aqui.
Também fazemos oficinas presenciais e no formato remoto ao vivo, com dinâmicas, gamificação e testes individuais de auto avaliação. Conheça as oficinas aqui.
Temos flexibilidade para construir soluções de treinamento diferenciadas para cada empresa. Entre em contato aqui para saber mais.